
15 Jun Reabilitação de um paciente com bruxismo através da colocação de facetas de cerâmica
com Drª. Diana de Macedo
Resumo
O bruxismo é um hábito parafuncional comum que tem efeitos negativos na dentição, tal como o desgaste dentário, sendo a sua etiologia multifactorial. Nos casos em que a reabilitação protética deste pacientes é indicada, a reabilitação através de facetas de cerâmica é uma opção de tratamento. No entanto, segundo alguns estudos, em pacientes com bruxismo ativo existe um risco superior de falha deste tipo de reabilitação. Em casos de bruxismo é fundamental a uilização de aparelhos interoclusais que permitem a redução de fratura da cerâmica que permite resultados excelentes.
No caso clínico é apresentado um paciente com causa major de desgaste dentário no bruxismo, sendo que o plano de tratamento consisitiu no planeamento ortodôntico, controlo do bruxismo e colocação de facetas nas arcadas superior e inferior.
Palavras-chave: bruxismo, invisalign, facetas cerâmica, estética dentária.
Introdução
De acordo com a Academia Americana da Dor Orofacial, o bruxismo é uma atividade parafuncional diurna ou nocturna que inclui a atividade repetitiva dos músculos da mandíbula, caracterizada pelo ranger ou o apertamento dos dentes, ou por uma combinação de ambos, e tem sido considerado como um distúrbio que requer tratamento (Johanssone cols, 2011; Granell-Ruíz e cols, 2014; Attanasio, 1997; American Academy of Orofacial Pain, 1996; Machado e cols, 2016; Lavignee cols, 2007; Lobbezoo e cols, 2013).
Apesar da etiologia desta disfunção não ser totalmente conhecida, é provavelmente multifactorial (Manfredini e Lobbezoo, 2009; Lobbezooe cols, 2010; Johanssone cols, 2011). A mesma poderá ter sequelas como o desgaste dentário, sinais e sintomas de disfunção temporomandibular, enxaquecas, dor dentária, mobilidade dentária e vários problemas relacionados com restaurações dentárias bem como com próteses fixas e removíveis (Carlssone Magnusson, 1999; Paesani, 2010; Johanssone cols, 2011).
São referidos alguns fatores de risco para o bruxismo tais como idade, género feminino, consumo detabaco, álcool e cafeína, fatores psicossociais como stress e ansiedade, distúrbios do sono como, por exemplo, apneia obstrutiva do sono, genética e determinados fármacos. Alguns autores defendem que o bruxismo de vigília e durante o sono devem ser considerados como duas entidades distintas, provavelmente com diferentes etiologias, e com diferentes fatores de risco (Johanssone cols, 2011).
O diagnóstico do bruxismo do sono é baseado no auto-relato e exame clínico do paciente, de acordo com os critérios mínimos propostos pela Academia Americana do Sono. A atividade real do bruxismo do sono apenas pode, no entanto, ser avaliada e confirmada por polissonografia (Lavignee cols, 2008; Machadoe cols, 2016).
Como anteriormente referido, o bruxismo é considerado um possível fator etiológico para a disfunção temporomandibular e para o desgaste dentário pelo que apresenta uma importância clínica fundamental.
Atualmente, não existe um tratamento específico para a interrupção do bruxismo do sono, embora muitos métodos, incluindo o tratamento protético, tenham sido testados ao longo dos anos. Por outro lado, tem sido sugerido que vários tratamentos tais como modificações de comportamento, por exemplo,consciência de hábito, terapia de reversão de hábitos, técnicas de relaxamento e terapia de biofeedback, podem eliminar o bruxismo de vigília. Embora estes métodos não sejam prejudiciais para o paciente, não há forte evidênciasde que algum seja eficaz no tratamento do bruxismo (Lobbezooe cols, 2008; Paesani, 2010; Johanssone cols, 2011). No entanto, a consciencialização do paciente sobre o hábito deverá ser uma das medidas pois permitirá o seu controlo e possivelmente a diminuição da frequência e/ou intensidade do contato e da tensão muscular.
Muitos pacientes não estão conscientes do apertamento ou ranger dos dentes durante o sono e, nestes casos, o profissional de saúde oral apresenta um papel fundamental para que seja possível um diagnóstico precoce e gestão desta parafunção. Desta forma, é possível prevenir danos severos nas estruturas dentárias e articulares, sendo que o desgaste dentário fica limitado ao esmalte de dentes anteriores e a decisão de restaurar este tipo de desgaste depende das exigências estéticas do paciente (Machadoe cols, 2016).
O desgaste severo dos dentes é difícil de reabilitar tendo em conta a quantidade de estrutura dentária remanescente, visto que frequentemente apresentam perda da dimensão vertical oclusal e graves problemas estéticos que podem requerer abordagens multidisciplinares para reabilitação, como cirurgia periodontal, tratamento endodôntico, núcleos intra-radiculares, restaurações diretas e indiretas (Mehtae cols, 2012;Machadoe cols, 2016).
A severidade do desgaste dentário pode ser classificada em três categorias, segundo Turnere Missirlian(1984), que permitem planear o processo reabilitador. Na categoria I incluem-se os pacientes que apresentam desgaste excessivo dos dentes e perda da dimensão vertical oclusale em que o restabelecimento do apoio posterior do dente e um aumento na dimensão verticalpodem ser necessários para a sua restauração adequada. Pacientes com desgaste dentário severo, mas sem perda da dimensão verticaldeoclusão que apresentamespaço para a colocação de restaurações encontram-se incluídos na categoria II. Os pacientes deste grupo normalmente têm suporte posterior adequado e uma longa história de bruxismo, ou seja, a contínua erupção dos dentes ajudou a manter a dimensão vertical oclusal. Os pacientes da categoria III apresentam desgaste dentário severo e não perderama dimensão vertical de oclusão, mas diferem da categoria II relativamente aoespaço disponível (Machadoe cols, 2016).
No bruxismo severo, aumentar a dimensão vertical e fornecer espaço suficiente para a restauração é um desafio, mas é um procedimento necessário. Este aumento da dimensão vertical pode ser realizado através de próteses parciais removíveis overlay provisórias que são de resina acrílica com dentes acrílicos parciais na região anterior e resina acrílica ou superfícies oclusais metálicas na região posterior. Estas próteses permitem cobrir o dente e as raízes desgastadas, especialmente para aumentar a dimensão vertical em pacientes com dentição severamentedesgastada. O uso de overlays provisórios é uma opção simples, eficaz e acessível para ajudar o profissional de saúde oral a aumentar a dimensão vertical dos pacientes e restabelecer a estética e a função durante a restaurações diretas ou indiretas (Fonseca e cols, 2011; Machadoe cols, 2016).
No estudo de Beier e cols (Beier e cols, 2012; Machadoe cols, 2016), foi avaliada a reabilitação de pacientes com e sem presença de bruxismo através da colocação de facetas de cerâmica, sendo que os resultados demonstraram uma taxa de sucesso de 82,9% em 20 anos mas que existe um risco 7.7 vezes superior quando em associação com bruxismo. No estudo de Granell-Ruíz e cols (Granell-Ruíze cols, 2014; Machadoe cols, 2016), a fratura da cerâmica e a descimentação das facetas ocorreram em associação com a presença de bruxismo que, no entanto, é diminuída quando se utiliza um splint oclusal (Machadoe cols, 2016).
Magne e cols (2000) relatam que a taxa de sucesso para reabilitação com facetas é reduzida para 60% em pacientes com atividade de bruxismo (Granell-Ruíze cols, 2014). Estes resultados são muito semelhantes àqueles obtidos para reabilitações metalocerâmicas.
No entanto, as taxas de sucesso podem ser aumentadas se o bruxismo for controlado. Nesses casos, é recomendado um splint noturno e/ou diurno como medida preventiva para reduzir o risco de falha, especialmente nestes pacientes (Christensen e Christensen, 1991; Walls, 1995; Granell-Ruíze cols, 2014).
De acordo com alguns autores, o bruxismo é uma contra-indicação para a colocação de facetas de cerâmica (Walls, 1995; Peumanse cols, 1998; Granell-Ruíze cols, 2014).
As facetas de cerâmica são indicadas para determinados casos em que é pretendida a correção da posição e forma dentárias, o encerramento de diastemas, substituição de restaurações antigas em resina composta, correção da descoloração dentária e restauração da abrasão dos bordos incisais ou erosão dentária (Freiree Archegas, 2010;Granell-Ruíze cols, 2014; Strassler, 2007; Gurel, 2007; Magnee cols, 2000; Zlatanovskae cols, 2017). A reabilitação através de facetas apresentam grande estética, bbocompatibilidade e resistência à coloração e desgaste (Goldsteine Haywood,1998; Alhekeir e cols, 2014; Fons-Fonte cols, 2006; Zlatanovskae cols, 2017). Desta forma, são consideradas como um tipo de reabilitação para muitos pacientes que necessitam de correção da estética dentária e em determinados casos em combinação com outro tipo de tratamento (Zlatanovskae cols, 2017).
Restaurações que são colocadas em pacientes que apresentam algum tipo de atividade de bruxismo devem apresentar um desenho funcional, especialmente em situações em que o paciente já perdeu alguma estrutura dentária eem que estasrestaurações proporcionam uma correta orientação anterior e canina (Highton e cols, 1987; Granell-Ruíze cols, 2014).
O splintoclusal é normalmente utilizado para tratamento da hiperatividade muscular presente em casos de bruxismo, sendo que diminuem a atiividade do mesmo durante períodos de stress. Desta forma, é aconselhável usar este tipo de dispositivos após reabilitação protética de pacientes com bruxismo, seja com coroas totais, seja com facetas de cerâmica (Granell-Ruíze cols, 2014).
Achados Clínicos
Paciente do géneromasculino, sem história médica prévia relevante. Relativamente à história dentária prévia, paciente não se encontrava satisfeito com a estética do seu sorriso, sendo reportado que não mastigava de forma correta nem sentia os seus dentes a ocluírem da forma ideal.
Numa primeira observação clínica, foi possível identificar a presença de inversão das curvas de Spee com exjtrusão compensatória do setor posterior e desgaste dos bordos anteriores, bem como proporção,volume e cor dentários inadequados.
No exame radiográfico e nos testes de vitalidade pulpar, os dentes apresentaram-se vitais e sem sinais de patologia periodontal.
Fotografia 1– Caso clínico inicial. É possível observar o desalinhamento presente e o desgaste dentário associado a extrusão dos setores posteriores superiores.
CRONOGRAMA
Primeira consulta
Fevereiro 2017
- Paciente insatisfeito com o sorriso, desafinamento dentário e com formato dos seus dentes;
- Exame extra e intra-oral, avaliação radiográfica e periodontal;
- Registo fotográfico inicial.
Tratamento
Março 2017
- Consulta de Higiene Oral;
- Remoção de lesões de cárie e restaurações diretas definitivas.
Maio 2017
- Estudo ortodôntico para colocação de aparelho ortodôntico removível.
Julho 2017
- Colocação de aparelho ortodôntico
Fevereiro 2018
- Registo fotográfico pós-tratamento ortodôntico;
- Realização de impressões para enceramento diagnóstico;
- Branqueamento exertno em consultório de ambas as arcadas.
Março 2018
- Fim de utilização de aparelho ortodôntico;
- Colocação de mock-up em ambas as arcadas e planeamento da reabilitação com facetas;
- Preparação dentária e impressões definitivas.
Abril 2018
- Colocação de facetas de molar a molar, em ambas as arcadas.
Maio 2018
- Avaliação de colusão e execução de goteira de relaxamento.
Follow-up
Junho 2018
- Consulta de Higiene Oral;
- Consulta de controlo de Oclusão;
- Consulta de controlo do aparelho de contenção.
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
A avaliação clínica extra-oral mostrou uma simetria facial e através da avaliação do sorriso, foi possível observar uma inversão da curva de Spee bilateral. Num plano sagital, o paciente apresentava um perfil concâvo e com terço inferior da face diminuído, com lábios e dentes anteriores retruídos bem como linhas médias dentárias não coincidentes. No maxilar superior, o paciente apresentava bruxismo dentário, mais acentuado nos bordos incisais dos quatro incisivos, com extrusão dos dentes posteriores para compensação da perda de dimensão vertical de oclusão. No maxilar inferior, apresentava ligeiro apinhamento dentário do sextante anterior e coroa dentossuportada no 1º molar esquerdo, com pouca adaptação.
Tendo em conta a forma e volume dos dentes superiores e inferiores, o estudo ortodôntico e radiográfico realizado, foi planeada a colocação de facetas do primeiro molar até ao primeiro molar contralateral, quer na arcada superior quer na arcada inferior, de forma a restabelecer a perda de estrutura dentária, após alinhamento dentário e correção das curvas de Spee bem como intrusão dos dentes póstero-superiores através de tratamento ortodôntico.
INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA
De acordo com o diagnóstico e o plano de tratamento realizados, foi efetuado, numa primeira fase, um estudo ortodôntico para correção da mordida e do desalinhamento dentário observados, melhoria da linha média dentária e dos níveis da margem gengival, de forma a compensar a sua extrusão, e alteração do trespasse vertical e horizontal para a colocação ideal de facetas.
Desta forma, foi efetuada a colocação de aparelho ortodôntico superior e inferior, sendo que o mesmo baseou-se na utilização de alinhadores de poliuretano semielástico e removível conhecido como Invisalign (Align Technology®). Estes alinhadores são feitos de um material plástico fino e transparente que se encaixa sobre as faces vestibulares, palatinas e oclusais dos dentes e que devem ser utilizados durante um período diário mínimo de 20 horas e são trocados sequencialmente a cada 2 semanas.
Os objetivos do tratamento ortodôntico foram a expansão de ambas as arcadas, criando, desta forma uma harmonia do sorriso com exposição do corredor bucal. Na arcada superior, foi realizada a intrusão dos dentes posteriores que se encontravam extruídos devido à compensação do desgaste dentário. Devido a esta extrusão dentária nos setores póstero-superior, foi também necessário corrigir e nivelar as curvas de Spee, bilateralmente, visto que as mesmas se encontravam invertidas. Relativamente ao setor inferior, foi realizado alinhamento dentário, mais acentuado no 5º sextante, e foi nivelada a linha média de acordo e com referência na linha média maxila. Com o objetivo da colocação de facetas posteriormente, foi criado um trespasse vertical ideal. O tratamento ortodôntico foi realizado num intervalo total de 8 meses.


Fotografias 2.1.-2.3. Caso clínico pós-tratamento ortodôntico. É possível observar a correção da posição dentária para a colocação ideal das facetas nas superfícies dentárias.
Posteriormente ao tratamento ortodôntico, foi realizado o estudo e planeamento da reabilitação maxilar e mandibular. Para isto ser possível, foram efetuadas impressões de ambas as arcadas para a realização de modelos de estudo e de um enceramento diagnóstico de forma a reproduzir o plano dentário estético quepermite avaliar a forma final da reabilitação, o tipo de preparação e a posição final das margens das facetas. Através de uma chave de silicone, construída a partir do enceramento diagnóstico, foi possível aplicar um mock-up em resina (Structure 3® VOCO). Neste caso, foi planeada a colocação de facetas, quer na arcada superior como na arcada inferior, desde o 1º molar até ao 1º molar contralateral, exceto o 1º molar inferior esquerdo que foi planeada a colocação de uma coroa que substituísse a coroa prévia do paciente.
Fotografias 2.4. Caso clínico com colocação de mock-up
Após este procedimento, e depois de ter sido realizado branqueamento externo em consultório de ambas as arcadas, e de a componente estética e funcional serem avaliadas, tendo em conta a anatomia dentária, foi feita a preparação dentária que se baseou na chave de silicone de forma a controlar a redução de espessura do esmalte dentário. De acordo com a abordagem descrita por Friedman (2001), a preparação foi realizada tendo em conta uma retenção ideal para facetas de cerâmica com 50% do substrato em esmalte e todas as linhas de terminação preservavam o esmalte dentário. A linha de terminação efetuada, e normalmente recomendada, foi o chanfro sendo que a extensão da preparação atingiu os limites interproximais de forma a mascarar as margens da restauração.
Após a preparação dentária, foi realizada impressão definitiva superior com colocação de fio de retração gengival e aplicada uma reabilitação de forma provisória. Depois da execução laboratorial das facetas e da coroa, foi efetuada a preparação da superfície da cerâmica para colocação no dente correspondente, tendo sido aplicado primeiramente ácido hidrofluorídrico (Porcelain Etch Gel 9.6% ácido hidrofluorídrico Pulpdent Corporation®) e posteriormente ácido fosfórico (Clarben Octacid 37% ácido fosfórico®), aplicação de silano (Monobond Plus Ivoclar Vivadent®) e de adesivo (OptiBondTM FL Kerr®). No condicionamento da superfície dentária, após ter sido realizada a limpeza de todas as faces, foi efetuada a aplicação de ácido fosfórico (Clarben Octacid 37% ácido fosfórico®), primer e adesivo fotopolimerizável (OptiBondTM FL Kerr®) e colocação da faceta dentária com posterior fotopolimerização de toda a peça, através de cimento resinoso (Variolink®Esthetic Neutral Ivoclar Vivadent).
Para qualquer reabilitação, a cor foi determinada antes de iniciar qualquer procedimento clínico, através da escala de cores VITA Classical®. Todo o procedimento foi realizado sob anestesia local.
Tanto no período prévio e posterior à colocação de facetas, foram realizadas consultas de oclusão do paciente de forma a efetuar o controlo da situação de bruxismo do mesmo.
Fotografias 2.5.-2.7. Facetas em cerâmica superiores para reabilitação.
Seguimento
Numa fase inicial, o seguimento do caso foi realizado através de intervalos curtos, para controlo do tratamento ortodôntico.
Posteriormente, foi realizado follow-updo caso 1 mês após a colocação das facetas, atingindo os objetivos da reabilitação, quer a nível estético quer a nível funcional. Neste momento, foi também feito o controlo da situação oclusal para estabilização do caso.
O seguimento anual do caso é essencial de forma a avaliar a estabilidade funcional, margens e condição dos tecidos moles, bem como analisar a estética de toda a reabilitação.
Fotografias 3.1. e 3.2. Caso clínico final com reabilitação através de facetas até aos 1ºs molares, na arcada superior e na arcada inferior.
CONCLUSÃO
Tendo em conta a exigência dos pacientes para a reabilitação da estética dos dentes anteriores , existem várias opções de tratamento que poderão ser propostas. Antes, o tratamento mais previsível e com maior durabilidade para a correção estética do setor anterior era a reabilitação através de coroas (Peumanse cols, 2000). No entanto, o tipo de preparação dentária necessário para a colocação de coroas dentossuportadas é mais invasivo com maior desgaste da superfície dentária e com possíveis efeitos adversos nos tecidos pulpar e periodontal (Peumanse cols, 2000;Strassler, 2007; Alhekeire cols, 2014;Zlatanovskae cols, 2017).
Atualmente, a evolução dos sistemas adesivos e a utilização dos mesmos permite preservar a estrutura dentária, satisfazendo as necessidades restaurativas e os desejos estéticos do paciente. Desta forma, de forma a reabilitar a estrutura dentária, devem ser selecionados materiais e técnicas que permitam um tratamento o mais conservador possível que permita, simultaneamente, complementar os requisitos mecânicos de forma a permitir a sua durabilidade clínica (McLarene Whiteman, 2010; Pini e cols, 2012).
Em 1938, Charles Pincusdesenvolveu a reabilitação provisória de dentes anteriores através de facetas de cerâmica aderidas à face vestibular dos mesmos (Beiere cols, 2012; Pincus, 1938; Fons-Font e cols, 2006; Zlatanovskae cols, 2017). Com a evolução dos sistemas adesivos, que compreende o condicionamento do esmalte proposto por Buonocuore, em 1955, e a introdução de resinas adesivas por Bowen, em 1962,possibilitou a aplicação das facetas à superfície dentária de forma permanente.Em 1983,Hornpropôs o uso de facetas para recobrir a superfície vestibular dos dentes anteriores como técnica de restauração estética definitiva, através do condicionamento da cerâmica (Bowen, 1965; Horn, 1983; Fons-Fonte cols, 2006; Buonocore, 1955; Bowen, 1963; Bowen, 1982; Zlatanovskae cols, 2017).
As facetas dentárias têm sido consideradas como uma das modalidades de tratamento mais viáveis, previsíveis e menos invasivas, tendo em conta a sua resistência, longevidade, natureza conservadora, biocompatibilidade e propriedades estéticas (McLarene Whiteman, 2010; McLarene LeSage, 2011; Pinie cols, 2012; Addisone cols, 2003; Aristidise Dimitra, 2002; Peumans e cols, 2004; Chen e cols, 2005; Granell-Ruíze cols, 2010; Gurel e cols, 2013).
A reabilitação através de facetas pode ser proposta em vários casos tais como a correção de alterações na cor, forma ou posição do dente, alterações na morfologia em pacientes com microdontia ou transposição dentária, encerramento de diastemas, fraturas do terço incisal, restauração dentária anterior extensa, abrasões de origem parafuncional, alterações do esmalte, reabilitação do guia anterior e reparação de fraturas decoroas ou pontes (Haga, 1991; Cuthbirth, 1993; Schmidseder, 1999; Dumfahrt, 2000; Beltrane cols, 1996; Fons-Font e cols, 2006; Garbere cols, 1988; Friedman, 2001; Beiere cols, 2012).
Estas apresentam altas taxas de sobrevivência a 10 e 12 anos e baixas taxas de falha quando aderidas ao esmalte (Dumfahrt e Schaffer, 2000; Fradeanie cols, 2005; Çoterte cols, 2009; Sadowsky, 2006; Gurel e cols, 2013).
Alguns estudos in vitro demonstram que a preparação dentária para posterior colocação de facetas requer significativamente menos redução de estrutura dentária do que outro tipo de restauração indireta, sendo que a resistência à fratura é muito superior quando a adesão é efetuada no esmalte (Edelhoffe Sorensen, 2002; Piemjaie Arksornnukit, 2007; Peumans e cols, 2000; Gurele cols, 2013; Van Meerbeeke cols, 1996; Van Meerbeeke cols, 1998).
A redução de esmalte para a colocação de facetas é, geralmente, de aproximadamente 0,5mm que permite a espessura mínima de cerâmica (Peumanse cols, 2000). Em casos de colocação de facetas, o mock-uppermite a correção de possíveis imprecisões e previne a redução desnecessária da estrutura dentária aquando a preparação da mesma (Magnee Belser,2004; Reshade cols, 2008; Gurel e cols, 2013).
Por outro lado, sempre que possível, o médico dentista pode optar por uma alternativa que respeita os critérios biológicos para a correção estética, como o tratamento ortodôntico para correção do desalinhamento dentário ou o branqueamento para alterações de cor e, caso necessário, reabilitar posteriormente através da colocação de facetas (Assim, sempre que possível, devemos optar por um caminho mais biológico para a correção estética, como o tratamento ortodôntico para correção da irregularidade da posição dos dentes ou o clareamento vital para alterações de cor (Kissov, 2008; Zlatanovskae cols, 2017).
No entanto, embora a reabilitação através de facetas seja uma opção de tratamento na restauração de dentes anteriores, alguns autores sugerem que hábitos parafuncionais como o bruxismo constituem uma contraindicação às restaurações adesivas, visto que as facetas apresentam uma taxa de falha superior nestes casos (Peumans e cols, 2000; Walls, 1995; Beier e cols, 2012).
Tal como referido anteriormente, obruxismo é uma atividade rítmica parafuncional na qual os pacientes apertam ou rangem os dentes durante o dia ou durante a noite (Attanasio, 1991; Beier e cols, 2012). O bruxismo foi classificado por Ramfjorde Ash(1971) em duas categorias, isto é, numacategoria cêntrica com carga vertical durante as horas de vigília e numa categoria excêntrica com comportamento de ranger os dentes em excursão lateral durante o sono(Ramfjorde Ash, 1971; Beier e cols, 2012). A etiologia do bruxismo ainda não se encontra esclarecida, no entanto é dada grande importância a fatores psicológicos e ao stress(Kampee cols, 1997; Lobbezooe Lavigne, 1997; Beier e cols, 2012).
Embora a taxa de sucesso de facetas de cerâmica em pacientes com parafunção seja menor, esta poderá ser superior caso a atividade parafuncional seja controlada (Magne e cols, 1999; Beier e cols, 2012).
Existem estratégias para reduzir os efeitos negativos do bruxismo tendo em conta que não existe um tratamento definitivo para eliminar permanentemente este tipo de patologia (Johanssone cols, 2011). Quando a intervenção protética é indicada num paciente com bruxismo, existem medidas que devem ser tidas em atenção para reduzir os efeitos da carga oclusal em todos os componentes que contribuem para a integridade estrutural da reabilitação (Johanssone cols, 2011).
Fotografias 4.1.- 4.6. Caso clínico final com reabilitação através de facetas na arcada superior e na arcada inferior – vista lateral direita (4.1. e 4.2.), vista lateral esquerda (4.3. e 4.4.) e vista frontal (4.5. e 4.6.)
Autores: Dr. Hugo Madeira e Dra. Diana de Macedo
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