
20 Abr O stress e o suicídio na medicina dentária
Para alguns não será novidade que os médicos dentistas têm uma profissão com uma elevada taxa de suicídio. Estudos recentes confirmam que o stress excessivo da profissão se traduz numa incidência alarmante de doenças cardiovasculares, úlceras, colites, dor lombar, cansaço da vista, depressão ou suicídio.
Numa revisão de literatura sobre suicídio entre médicos, verificamos que, em todo o mundo, a taxa de suicídio na população médica é superior à da população geral, Richings JC, Khara GS, Mc Dowell M, em Suicide in young doctors.
Na sua obra, Suicide risk among dentists: A multivariate analysis, o investigador Steven Stack, aprofunda este tema e fundamenta que a profissão de médico dentista é reconhecida como tendo uma elevada incidência de suicídio. Para aqueles que estão fora desta área de atuação, talvez se levantem questões: Porquê o dentista? Fazem muito dinheiro, o seu trabalho parece interessante e desafiador!
Segundo Steven a “probabilidade de suicídio de um dentista é 6.64 vezes maior do que a do resto da população em idade ativa”.
Mas afinal quais são as causas de stress no exercício da medicina dentária?
O confinamento a que obriga, já que uma enorme fatia dos médicos dentistas passa a maior parte das suas vidas em consultórios muito pequenos. O trabalho é intrincado e meticuloso e realizado na boca, um espaço pequeno e restrito. Por outro lado, obriga a horas e horas em posições muito prejudiciais para a saúde.
A maioria destes profissionais executa sozinho e não tem oportunidade de partilhar e resolver problemas em conjunto com outros colegas o que provoca o isolamento. Para além disso, a competição que existe entre médicos dentistas é feroz.
A minúcia e detalhe deste trabalho leva a um síndrome de perfeccionismo.
Todo o percurso de um dentista, desde a faculdade ao exercício da profissão propriamente dita, requer um grande investimento. O investimento na faculdade, em inúmeros cursos de especialização ou na criação de uma clinica própria, criam desde cedo uma pressão no que toca ao dinheiro.
O tempo é um dos factores basilares que explicam os elevados níveis de stress na profissão. As agendas diárias para cumprir, nos timings certos, são fontes de stress crónico.
O trabalho de um dentista acaba por ser frustrante, porque na faculdade aprendemos o plano de tratamento ideal para cada paciente, no entanto, na vida real apercebemo-nos que a maioria dos pacientes não está disposta ao plano ideal, por falta de conhecimento ou falta de possibilidades. Então, acabamos por ter de substituir o plano ideal pelo plano mais barato e mais débil, o que nos obriga a operar muito numa base de “remediar o problema”.
A gestão de expectativas e de stress de muitos pacientes acaba por ser também um fardo muito pesado. É conhecido o medo dos dentistas por muitas pessoas e o médico tem de lidar com o stress do próprio paciente e dar uma resposta ao seu medo e ansiedade.