O futuro digital da medicina dentária



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Esta foi a entrevista integral que preparámos para uma revista da especialidade onde falo acerca da minha perspectiva sobre a técnica de Digital Smile Design (DSD). Algumas das perguntas espelham a desinformação no que respeita ao DSD, mas as respostas ajudam a chegar a uma conclusão relativa às vantagens desta prática e ao futuro na medicina dentária – uma dimensão digital, onde podemos criar a computador todo o planeamento de uma reabilitação estética, desenhar estruturas em computador e imprimi-las em 3d.

 

1. Há quanto tempo aplica esta técnica? Que evolução vê desde essa altura a até hoje?

Entre 2 a 3 anos.

O DSD tem evoluído no que diz respeito à divulgação, já que há 3 anos quando comecei a utilizar esta técnica pouco ou nada se ouvia falar e atualmente a maioria dos profissionais já sabe do que se trata.

Tornou-se uma ponte essencial entre o planeamento digital do sorriso e a produção dos dentes propriamente dita, a parte da impressão e da fresagem das peças dentárias, facetas, coroas ou próteses sobre implantes.

Também a própria APP do DSD tem sofrido alterações, até com fotografias de um smartphone conseguimos fazer um DSD, obviamente que não tem a mesma qualidade do que uma fotografia tirada com uma boa máquina, mas ainda assim é possível fazer um esboço do desenho do sorriso com um equipamento acessível a qualquer profissional.

Por outro lado, numa fase mais inicial era uma técnica mais aplicada em reabilitações estéticas, maioritariamente para a reabilitação com facetas, enquanto que hoje pode ser aplicada, nomeadamente no desenho do sorriso de um paciente sem dentes, na previsão do resultado final de um tratamento ortodôntico ou na criação de guias cirúrgicas.

2. Que vantagem tem, tanto para o paciente como para o médico dentista? Pode dar exemplos?

Para mim as maiores vantagens do DSD são: poder gerir da melhor forma as expectativas do paciente e o tempo que ganhamos em cada tratamento.

Antigamente, os trabalhos de criação de próteses fixas ou de reabilitação sobre implantes eram iniciados sem que médico ou paciente tivessem acesso ao resultado final. Daqui decorria tempo gasto em provas e a ansiedade e a inquietação do paciente até que se chegasse ao resultado final.

Por outro lado, o facto de podermos estudar um tratamento ao detalhe, do início ao fim, de termos uma visão macro de todas as necessidades do paciente, de conseguirmos apresentar-lhe um trabalho muito mais cuidado e de qualidade, permite que pratiquemos aquilo que de melhor se faz em medicina dentária.

3. E que desvantagens ou riscos pode trazer o uso desta técnica?

Todos os processos baseados em conhecimento científico exigem um período de aprendizagem que, para alguns, pode ser visto como uma desvantagem, não para mim. Não vejo na curva de aprendizagem do DSD uma desvantagem, mas sim um meio para atingir um fim.

4. Como tem sido recebida pelos seus pares? Que obstáculos impedem a sua generalização em mais clínicas?

Como acabei de referir, ainda são muitos os médicos dentistas que não estão dispostos a “perder tempo” a investigar e a estudar esta técnica de planeamento. Na minha opinião, isto demonstra que um dos maiores obstáculos à implementação do DSD ainda é a desinformação, já que depois de ultrapassada a curva de aprendizagem ganhamos em tempo e em qualidade. Outro exemplo concreto aconteceu quando falava com uma colega que me dizia que não podia usar o DSD, porque não tinha um estúdio fotográfico, o que demonstra desinformação, pois é possível planear em DSD com fotografias de Smartphone!

Outro obstáculo é estrutural e está enraizado em Portugal, em várias áreas da medicina, quando existe resistência à inovação e lealdade inquestionável a técnicas mais tradicionais.

5. De acordo com a sua experiência que pacientes mostram maior interesse nesta abordagem: homens ou mulheres?

Vivemos num século em que se começa a dar menos importância à dicotomia homem e mulher. Atualmente tanto a mulher como o homem demonstram sensibilidade para a harmonia e para os detalhes inerentes a uma reconstrução estética.

6. A que casos se destina? É uma opção acessível a qualquer paciente?

Destina-se a todos os casos que envolvam a componente estética de um sorriso.

É uma opção acessível a qualquer médico, antes de ser acessível a qualquer paciente, porque é o médico que decide utilizá-la ou não. Esta técnica não tem de ser acessível para o paciente, não é cobrada à parte, o DSD é um complemento para o tratamento estético, utilizado para estudar o caso do paciente e para lhe mostrar o desenho de como ficará o seu sorriso.

7. Em termos de procedimentos, recorrer ao DSD implica mais tempo ou mais consultas para definir um tratamento? Em termos de custos que incremento pode representar?

Demora mais concretizar o planeamento digital do tratamento, mas por outro lado, quando chegamos ao resultado final, a execução do tratamento é muito mais rápida e requer muito menos provas e consultas.

Para mim representou menos custos, porque quando poupo em tempo também poupo em dinheiro, e ainda ganho em qualidade.

8. A busca pelo sorriso perfeito e a simulação digital não poderão levantar questões estéticas/éticas, por exemplo, um paciente que pretende um sorriso semelhante ao de uma celebridade e que não se adequa ao rosto?

As pessoas têm os seus ídolos e as suas inspirações, nós percebemo-las e readaptamo-las, ou seja, levamo-las em consideração até certo ponto. É possível seguir as linhas básicas de um sorriso preconcebido, mas os dentes serão sempre adaptados à estrutura da pessoa, à sua maxila, ao seu lábio e à fisionomia do seu rosto. Aqui podemos, mais uma vez, falar em desinformação, já que não há dois sorrisos iguais, com ou sem DSD.

9. A componente emocional está muito patente nesta abordagem. Estará esta perspectiva a mudar a forma como se faz Medicina Dentária? Na sua opinião, como será o futuro?

Sim, hoje em dia os tratamentos estéticos têm uma componente emocional, já que o paciente passou a participar no projecto do seu sorriso e também porque tentamos desenhá-lo estreitando aquilo que são as suas características físicas com a sua personalidade.

O futuro leva-nos para o início desta entrevista, para uma dimensão digital da medicina dentária, onde podemos criar digitalmente todo o planeamento de uma reabilitação estética, desenhar estruturas em computador e imprimi-las em 3d.