
07 Mar Mais do que um implante
OPINIÃO PUBLICADA ORIGINALMENTE NO CADERNO DO EXPRESSO DIA 25 DE MARÇO DE 2016
Quando os pacientes procuram uma reconstrução dentária não pretendem simplesmente colocar uns implantes e resolver os problemas funcionais que a falta de saúde oral lhes causou. Estas pessoas anseiam mais do que isso, querem voltar a sorrir com a confiança que perderam.
Os dentistas do século XXI já não deviam ser meros profissionais de saúde, a abordagem para com o paciente tem de ser transversal. Num dia de trabalho, para além de médicos, somos ouvintes, gestores de expectativas e sonhos, no fundo somos aliados do paciente, para juntos conseguirmos concretizar a transformação a que aspira, uma mudança que vai de fora para dentro, do sorriso para o íntimo.
Muitos pacientes estão deprimidos com o estado da sua saúde oral, alguns evitam mesmo manter uma vida social ativa, têm vergonha de comunicar e de sorrir. Isto torna evidente que estas pessoas não procuram só uma restruturação dentária, precisam de uma injeção de auto-estima, de se sentirem confiantes outra vez.
Atualmente, recorrendo aos melhores materiais, investindo nas últimas tecnologias e evoluindo enquanto técnicos, todos os dias, conseguimos quebrar barreiras, e posso dizer que não há impossíveis na hora de reconstruir um sorriso. Contudo, é preciso que fique claro que esta experiência única, segura, confortável e com garantias, não é assegurada em todos os espaços clínicos.
Pelo contrário, o mercado está saturado de ofertas e promessas de descontos em sorrisos perfeitos, muitas vezes a preços que somados ultrapassam o desvio padrão daquilo que seriam os mínimos de qualidade garantidos pela ciência.
Se, na hora de escolher um tratamento, a única variável que vai a jogo é o preço, então o paciente corre riscos, já que a colocação de implantes se trata de uma intervenção cirúrgica e requer a ponderação de inúmeras factores.
Mas, no que concerne à implantologia, a desinformação é ainda muito significativa, e quando o paciente olha para a big picture e ignora os processos, pode estar a encontrar aquilo que não procura e até vir a ter complicações de saúde sérias.
Na esmagadora maioria dos casos, o paciente não tem ao seu alcance respostas a perguntas tão simples como: que materiais são utilizados, que estudos garantem o sucesso do tratamento a longo prazo, que garantias têm depois de colocar os implantes, o passaporte do implante (onde ficam registadas todas as informações sobre o implante, para que qualquer médico em qualquer parte do mundo, possa saber que ferramentas usar caso haja algum problema) ou a formação do médico.
Não há uma legislação específica ou uma sociedade de implantologistas e em Portugal a ação dos médicos dentistas sofre de falta de regulamentação e supervisão. Portanto, se, em primeira instância, os próprios médicos incentivam a desinformação, o gatilho para a mudança deste paradigma pode partir da atitude dos próprios pacientes que, ao colocarem as perguntas certas, conseguem tomar uma decisão mais acertada na hora de escolher as clínicas e os médicos a quem vão confiar a sua saúde.