Ortodontia associada à Implantolgia na Reabilitação Oral: multidisciplinaridade

com Carlota Mendonça, Diana de Macedo, Hugo Madeira

Resumo

As deformidades dentofaciais transcendem quaisquer exigências do paciente, pois comprometem funções básicas. O tratamento ortodôntico tem como objectivo a obtenção de uma oclusão ideal, compatível com uma correcta saúde oral. Da mesma maneira que a posição dentária influencia os tecidos de suporte, a correta posição dos implantes determina uma estética favorável, o cumprimento dos objetivos prostodônticos, a estabilidade dos tecidos peri-implantares e uma oclusão adequada dos implantes em carga funcional. A cirurgia para colocação de implantes dentários com recurso a guia cirúrgica aumenta a precisão e minimiza a necessidade de realização de enxertos ósseos. Neste caso clínico, é descrito a interdisciplinariedade da Ortodontia aliada à Implantologia para a reabilitação de casos de apinhamento dentário com perdas dentárias associadas.

Palavras-chave: Apinhamento dentário; Doença Periodontal; Ortodontia fixa; Implantologia prostodonticamente guiada; workflow digital;

Introdução

As deformidades dentofaciais transcendem quaisquer exigências estéticas do paciente, devido ao facto de comprometeram as funções básicas (mastigação, deglutição, fonação e respiração). Posto isto é necessário ponderar o impacto psicossocial destas condições, dado a repercussão na qualidade de vida destes pacientes (Ribeiro-Neto, Ferreira et al. 2018, Mendes de Paula Gomes, Adas Saliba Garbin et al. 2019). Em pacientes diagnosticados com anomalias dentofaciais, a monitorização multidisciplinar é sem dúvida o primeiro passo para a elaboração do Plano de Tratamento, visto que o sucesso da terapia vai depender em muito das expectativas, motivações e percepções individuais (Mendes de Paula Gomes, Adas Saliba Garbin et al. 2019). É fulcral o conhecimento por parte do Médico Dentista das diferentes opções de tratamento disponíveis, por forma a que estas sejam expostas ao paciente, com explicação não só dos procedimentos, mas também dos riscos e benefícios associados a cada uma delas (Malik, Waring et al. 2016). O tratamento ortodôntico tem como principal propósito a obtenção da oclusão ideal, a qual é compatível com a longevidade e persistência de uma correcta saúde oral. Apesar das maloclusões constituirem um problema de saúde pública, a estética facial é o principal motivo apresentado pelos pacientes quando procuram esta especialidade da Medicina Dentária. Os pacientes consideram que o tratamento ortodôntico é relevante em termos de desenvolvimento de confiança e, por conseguinte, melhoria da auto-estima (Bernhardt, Krey et al. 2019). Teoricamente o tratamento ortodôntico cria condições favoráveis à prevenção de doenças orais, nomeadamente, doença periodontal e cárie dentária e, em última linha, evita a perda de peças dentárias (Bernhardt, Krey et al. 2019). A prevalência de maloclusões ronda os 90%, com diferentes padrões de apresentação. A forma mais frequente consiste no apinhamento dentário dos sectores anteriores (40% maxila e 60% mandíbula). Não obstante, o arquétipo clinicamente relevante constitui 5% na maxila e 10% na mandíbula (Bernhardt, Krey et al. 2019). A posição dentária tem um papel preponderante nos tecidos periodontais, não só em termos de capacidade de higienização, como também na definição do contorno da gengiva marginal, papila interdentária e estrutura óssea alveolar (Diedrich 2000, Alsulaiman, Kaye et al. 2018, Bernhardt, Krey et al. 2019). A correção do apinhamento dentário apresenta um impacto positivo nos tecidos periodontais de suporte, na medida que melhora o acesso para uma correta higiene oral, facilita a terapia periodontal mecânica e permite melhor condições para a regeneração (Diedrich 2000). Da mesma maneira que a posição dentária influencia os tecidos de suporte, a correta posição dos implantes determina uma estética favorável, o cumprimento dos objetivos prostodônticos, a estabilidade dos tecidos peri-implantares e uma oclusão adequada dos implantes em carga funcional (D’Haese, Ackhurst et al. 2017). A implantologia prostodonticamente guiada veio revolucionar a terapêutica em Medicina Dentária. A sua aplicabilidade clínica está directamente relacionada com softwares de planeamento digital, que permitem a confecção de guias para a colocação de implantes segundo os critérios ideais de distância inter-implante, distância denteimplante e profundidade do implante (D’Haese, Ackhurst et al. 2017). Para além disso, a sobreposição de imagens radiográficas tridimensionais do paciente com modelos virtuais produzidos via scanner intra-oral permitem uma melhor visualização dos tecidos moles e duros do paciente, com melhorias clinicamente relevantes no planeamento e sucesso dos tratamentos (Lee, Park et al. 2013, D’Haese, Ackhurst et al. 2017). Segundo a literatura, a cirurgia para colocação de implantes dentários com recurso a guia cirúrgica aumenta a precisão e minimiza a necessidade de realização de enxertos ósseos. Não obstante, a interpretação destes dados deve ser cautelosa consoante a metodologia inerente (Lee, Park et al. 2013). Sarment et al.(Sarment, Sukovic et al. 2003) e Kramer et al. (Kramer, Baethge et al. 2005) verificaram, em estudos in vitro, que as guias digitais são mais precisas que as guias convencionais, mas em estudos in vivo essa precisão é inferior (Vrielinck, Politis et al. 2003, Di Giacomo, Cury et al. 2005). Outros estudos sugerem que as diferenças na precisão regem-se por erros mecânicos intrínsecos que podem ser minimizados no processo de fabricação das guias (diâmetro da anilha, distância entre base da anilhe e crista óssea alveolar). Porém, o impacto no resultado final é inferior aos potenciais erros decorrentes do processo clínico (Cassetta, Stefanelli et al. 2012).

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