
25 Fev A viagem à Índia e o início desconhecido – Parte 1
Quando pisei a Índia pela primeira vez foi como se da minha mente tivessem sido apagadas todas as minhas expectativas, ideias e tudo o que tinha ouvido a seu respeito. Limitei-me a utilizar os meus sentidos. O som evasivo do trânsito, os pregões dos vendedores, os animais, os cheiros penetrantes e as cores que me assaltavam a alma!
De repente, naquele caos, vi-me totalmente só, desamparado, sem saber para onde ir, sem saber qual era o meu lugar no mundo. Assustado, mas com a ânsia de recomeçar, iniciei a minha jornada e pus-me a caminho das minhas respostas.
A cada passo ia-me familiarizando com a concentração de pessoas – num país com 1,2 biliões de habitantes – por entre autocarros e carros desgovernados, motas sem travões, bicicletas do século XIX, tuc-tucs, burros sem rabo, cabras, vacas, camelos… Senti-me dentro das regras do jogo indiano e tal como no trânsito, só um princípio prevalecia – estar aqui agora.
Mas permitam-me que faça um rewind. Eu tinha 27 anos e pouco tempo depois de terminar o curso já tinha contratos de trabalho em quatro clínicas, onde já exercia a minha especialidade – implantologia. A remuneração era bastante acima da média, 70 horas semanais de trabalho e estava seguro das minhas capacidades. No entanto, não passou muito tempo até me sentir estagnado, sem autonomia para mudar processos, para sugerir, para criar algo de novo.
A Novembro de 2007, aproximava-se o Natal e eu, desapontado com o sistema, emocionalmente desgastado, tinha a oportunidade perfeita para descansar. Contudo, muitas vezes aquilo que desejamos não é do que precisamos. Foi então que decidi seguir as pisadas da minha mãe e, ainda cheio de dúvidas, comprar um bilhete só de ida para a Índia.
Embarquei a 23 de Dezembro, tal como a minha mãe, sozinho, sem nada planeado, sem grandes justificações, apenas movido pela necessidade de me encontrar.
O relógio marcava nove horas, quando consegui boleia do Tarik, um rapaz indiano com 17 anos, que me levou na sua mota até a um centro de meditação que se escondia no meio das montanhas, numa aldeia em Pune.
Pouco ou nada sabia sobre meditação, tinha apenas algumas referências e a ideia contemporânea de que a Índia é o sítio onde nos conseguimos encontrar espiritualmente.
Mas contra as minhas expectativas, não tardou até perceber que podemos meditar e ter diferentes guias espirituais em qualquer sítio do mundo. “Quando achamos que temos todas as respostas, vem a Vida e muda todas as perguntas”, Luís Fernando Veríssimo.
Mais uma vez sentia-me perdido, o que estava eu ali a fazer?
Passados cinco dias no centro de meditação, fiz-me à estrada logo pela manhã, mais uma vez sozinho, mais uma vez perdido, mas com um sentimento de liberdade inigualável.
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